quarta-feira, 24 de janeiro de 2007


Postado por Tetê no blog antigo

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Quatro Pontos

Cada vez que acorda, parece ser outra pessoa, embora quase sempre, sinta o desejo de ficar na cama mais um tempo. Tem a mania de se esticar como gato em dia preguiçoso de chuva. Como gato e dia preguiçoso de sol. Mas acaba por levantar a alma e levar adiante seus dias que possuem incontestavelmente as mesmas manhãs. Manhãs de leite achocolatado e pão com manteiga em frente à TV ouvindo e contando as novidades da e para a mãe. Quando as novidades terminam, ela se levanta e, enquanto coloca a casa em ordem, arruma também seus pensamentos pensando no tão pouco que fez e no muito que ainda resta a fazer. Tira o pó dos móveis como se tirasse uma cortina de fumaça do olhar e prevê o dia que a espera, mas que sempre a surpreende. Sente saudades do amor que está longe e até a hora do almoço resiste à tentação de não fazer a tão cara ligação interurbana que uniria só mais um pouquinho suas almas. Ganha o dia após a hora do almoço recheado de coisas saudáveis e então se abriga por um momento em seu quarto. Talvez ouça um pouco de música ou faça as tarefas da escola. Talvez decida dar um pulo até a academia de ginástica para dançar ou imitar o grande Chaplin em seu gesto mais famoso. Embora às vezes chore ao lado de seu cachorro maluco, tem a alma feliz e livre como um pássaro que acabou de descobrir o mundo. Por isso, frequentemente protagoniza estórias malucas que depois contará às amigas mais com o corpo que com a boca. Por outro lado, nunca pega o início daquilo que as amigas contam fazendo-as repetir trechos que há muitos passaram do instante do que já está sendo dito. Mas é doce como açúcar. E é essa docilidade, misturada a uma grande paciência, que a faz suportar a saudade que sente do amor que ainda não veio a fim de unir só mais um pouquinho as suas almas. Imediatamente após o pôr do sol, ela já está sentada na sala da faculdade ouvindo estórias sobre poetas e grandes mestres da língua materna. Quase nunca percebe, porém, que ela é, por si própria, uma domadora da linguagem. Daquelas que conseguem convencer até mesmo o mais teimoso dos indivíduos que a rodeiam. Com a mesma presteza com que calcula os descontos que receberá na compra de seus produtos de beleza, discute em sala de aula os grandes temas nacionais, infere os próximos acontecimentos e decide o que fará no próximo fim de semana. Mas é sensível como uma flor e por isso às vezes é tomada por profunda melancolia e seus olhos quase negros se transformam em um mar de mágoa. Felizmente esses momentos não duram muito e logo seu verdadeiro eu retorna à superfície. Então ela entra e seu carro repleto de bugigangas e canta músicas alegres enquanto espera que de repente, seu amor chegue no meio da madrugada e encha seu coração de alegria só pelo fato de unir um pouco mais as suas almas. Rindo dos outros e de si mesma, ela vê o resto do dia passar. Com ele teve muitas tiradas que tornaram as vidas de seus amigos mais leves. Procurou e perdeu coisas, amores e paciência. Encontrou fatos interessantes na internet, sorriu, passou raiva. Resolve voltar para casa e no caminho ouve músicas que falam de amor, de arte e dos sarros que a vida costuma tirar da gente. Antes de dormir, porém costumar tomar banhos com finos traços de melancolia. Afinal, seu dia fora cheio e ela está realmente cansada. Talvez por isso, muitas vezes pense coisas bobas e chegue até mesmo a esquecer a pessoa maravilhosa que é. Única, inteligente, brilhante. Mas logo deita em sua grande cama e os anjos se aproximam para afagar seu coração. Por isso dorme o sono dos justos e antes de acordar morrendo de vontade de ficar mais um pouco na cama, sonha com o grande amor que chegará no dia seguinte, ou no outro ou no outro. A qualquer hora, em qualquer momento. Por que esse amor está em algum lugar do espaço procurando por ela. E, quando a encontrar, olhará seus olhos puros e sua grande capacidade de doação. E então se encaixará em seus braços a fim de unir para sempre as suas almas.
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